História

O CECS e os primeiros passos na investigação em ciências da comunicação no espaço lusófono

O trabalho de investigação em torno da lusofonia, com o envolvimento do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), nasce com o projeto “Espaço lusófono – língua portuguesa e identidade lusófona” que surge no seguimento da constituição da Federação Lusófona de Ciências da Comunicação (Lusocom), em 1997, em Lisboa, em que participam Moisés de Lemos Martins e Aníbal Alves. Na comunidade lusófona, que se estima em mais de 200 milhões de falantes, apenas uma minoria concebe as suas pertenças a partir de uma língua comum. O lugar da lusofonia é, sem dúvida, o de uma “luso-afonia” (Mia Couto, 2009), ou seja, é sobretudo um lugar de não conhecimento e de não reconhecimento das comunidades deste vasto espaço geocultural.

Mapear e organizar a investigação em Ciências da Comunicação, constituindo por todo o espaço lusófono uma rede de cooperação científica, respondeu à necessidade estratégica de ver o trabalho científico, realizado pelas comunidades lusófonas de Ciências da Comunicação, reconhecido pela comunidade científica internacional, e ver, de igual modo, reconhecidas as suas revistas científicas.

Desde o I Encontro Lusófono de Ciências da Comunicação (I Congresso Lusocom) em 1997, a comunidade lusófona tem vindo a desenvolver um conjunto de atividades científicas e publicações que contribuíram para desenvolver as redes de cooperação nos vários países de língua portuguesa. As actas do III Congresso Lusófono foram publicadas no 2.º e 3.º números da Revista Comunicação e Sociedade, editada pelo Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, respetivamente em 2000 e 2001; e em 2003, é lançado, em São Paulo, o Anuário Internacional de Comunicação Lusófona, órgão científico da Federação Lusófona de Ciências da Comunicação.

Entretanto, até 2014, a comunidade lusófona, sobretudo de brasileiros, portugueses e galegos, mas também de moçambicanos, angolanos, cabo-verdianos, guineenses, são-tomenses e timorenses, realiza vários Congressos da Lusocom: o V Lusocom, na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo; o VI Lusocom, na Universidade da Beira Interior, na Covilhã; o VII Lusocom, na Universidade de Santiago de Compostela; o VIII Lusocom, na Universidade Lusófona, em Lisboa; o IX Lusocom, na Universidade Paulista de São Paulo; o X Lusocom, na Universidade de Lisboa; o XI Lusocom, na Universidade de Vigo, em Pontevedra. Entre 1997 e 2014, cinco Congressos da Lusocom são realizados em Portugal, três no Brasil, dois na Galiza e um em Moçambique.

No que concerne às publicações que resultam destas parcerias, em 2006 é publicado o livro “Língua Portuguesa – Reflexões Lusófonas”. A organizadora da edição, Neusa Bastos (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil) esclarece que entende por lusofonia “o conjunto dos falantes de português como língua materna ou não, sendo, portanto, um sistema de comunicação linguístico-cultural no âmbito da língua portuguesa em todas as suas variantes linguísticas” (Bastos, 2006, p. 9). Nesta obra, Eduardo Namburete, da Universidade Eduardo Mondlane reconhece que o “nós da lusofonia ainda é controverso entre académicos e estudiosos, visto que ainda desperta posições muito degladiantes e, muitas vezes, fantasmas do passado” (Namburete, 2006, p. 63).

Do ponto de vista das Ciências da Comunicação, o espaço lusófono parecia constituir um objeto de pesquisa promissor, embora volátil. Num mundo cada vez mais globalizado, o espaço lusófono, em geral, e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em particular, eram e são ainda vistos com potencial para contribuir para o desenvolvimento de perspetivas alternativas (e necessariamente mais complexas) sobre o papel que as políticas e os discursos dos média têm desempenhado na (re)construção das identidades lusófonas.

Dando continuidade às parcerias estabelecidas, tem lugar na Universidade do Minho, no dia 7 de outubro de 2005, o Seminário Internacional “Comunicação e Lusofonia” e em 2008 a Conferência Internacional “Comunicação Intercultural: Perspectivas, Dilemas e Desafios”.

 

Desenvolvimentos nos últimos anos: as lusofonias, os estudos culturais e os média

Em 2010 tem início o projeto de investigação “Narrativas Identitárias e Memória Social: a (re)construção da lusofonia em contextos interculturais”, sediado no CECS. O projeto contou com a colaboração de investigadores dos diversos países de língua oficial portuguesa. Este projeto tinha como objetivo dar continuidade e aprofundar algumas linhas de investigação transversais às que foram desenvolvidas previamente por diversos membros da equipa sobre narrativas identitárias, memória social e comunicação intercultural. Este projeto  encerra em 2013, com a Conferência Internacional ‘Interfaces da Lusofonia’, que decorreu na Universidade do Minho. Esta conferência teve como proposta fundamental pensar a Lusofonia na interseção de olhares, de interpretações e de saberes. Organizada pelo CECS, esta iniciativa assentou na ideia da porosidade das fronteiras científicas e na convicção de que o cruzamento de olhares favorece um entendimento mais proveitoso do que é, e do que pode ser, a Lusofonia. A conferência contou com a participação de cerca de duas centenas de investigadores, a partir dos campos das ciências sociais e humanas, bem como das artes e das letras, se têm dedicado à investigação e à reflexão sobre a Lusofonia.

No ano seguinte, o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade organizou o II Congresso Mundial de Comunicação Ibero-americana “Comunicação ibero-americana: os desafios da Internacionalização”, tendo participado no evento cerca de 800 investigadores de expressão portuguesa e espanhola. Esta iniciativa contribuiu para o fortalecimento das redes construídas ao longo dos últimos anos e para o alargamento do campo da comunicação como área de pesquisa e de intervenção social.

Ainda em 2014, realizou-se o IV Congresso Internacional em Estudos Culturais, subordinado ao tema “Colonialismos, Pós-Colonialismos e Lusofonias”. O evento foi promovido em parceria pelo Programa Doutoral em Estudos Culturais UA/-CECS-UMinho e pelo Museu de Aveiro-Santa Joana.

Nos últimos anos, os investigadores do CECS têm estado envolvidos em vários projetos coletivos que têm “as lusofonias”, as relações interculturais e os média como objeto de estudo primordial. É exemplo destas iniciativas o projeto “Migrações, Média e Diálogo Intercultural” que iniciou em 2009 e decorreu até 2015; o projeto “Estratégia de sensibilização para a multiculturalidade na Universidade do Minho”, que decorre desde 2015 e termina em 2017; o projeto “Comunicação, cultura e patrimônio histórico no Distrito Federal”, que envolve investigadores do CECS e da Universidade de Brasília, com o apoio do Fundo de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (Brasil) e que termina também em 2017.

Fruto das parcerias já estabelecidas entre o CECS e as Universidades de Brasília (Brasil) e Eduardo Mondlane (Moçambique), têm sido ainda dados os primeiros passos na recolha de materiais escritos e audiovisuais para integrar o Museu Virtual da Lusofonia, projeto que surge precisamente dos diálogos desenvolvidos ao longo de cerca de 20 anos em torno da ideia de lusofonia. O olhar construído sobre este conceito concebe-o como um movimento multicultural de povos que falam uma mesma língua, o português. Ao invés da homogeneização empobrecedora e de sentido único, estabelecida pela globalização cosmopolita, a Lusofonia tem a virtude do heterogéneo e a sedução de uma rede tecida de fios de muitas cores e texturas, uma rede capaz de resistir à redução do diverso a uma unidade artificial (Martins, 2015). Foi precisamente a construção desta rede que os projetos desenvolvidos pelo CECS procuraram promover.  Nesta perspetiva, o espaço cultural da Lusofonia e a comunidade de sentido e de partilha comuns só podem realizar-se pela assunção da pluralidade e da diferença e pelo conhecimento aprofundado de uns e de outros (Martins, 2015). O Museu Virtual da Lusofonia pretende contribuir para a promoção deste conhecimento mútuo, através da disponibilização, de forma gratuita, de registos de expressões culturais e artísticas que representem a diversidade cultural, científica, linguística e artística dos países lusófonos.