Conceito

O conceito de lusofonia na interseção de olhares

 

Ao longo das últimas duas décadas são vários os investigadores, escritores, artistas, bloguistas e ativistas digitais, que têm discutido os significados atribuídos à ideia de lusofonia e ao papel da língua portuguesa no processo de (re)construção identitária das populações nos vários países de língua oficial portuguesa (Lourenço, 1999; Martins, 2004, 2006, 2015, 2016; Namburete, 2006; Hanna, Brito & Bastos, 2011; Mia Couto, 2009; Chimbutane, 2011; Ngomane, 2012; Teixeira, 2014, entre outros).

Tratando-se de um terreno polémico e pouco consensual, os debates sobre a lusofonia, ora privilegiam a língua, ora a interação no domínio cultural, dando também relevo a uma matriz pós-colonial que permite olhar criticamente o conceito. De uma perspetiva pós-colonial, reconhece-se que o conceito de lusofonia tem uma genealogia e uma história; que remete para um conjunto de representações, sendo que umas privilegiam idealizações e outras estigmatizam-no.

Admite-se, ainda, que esta noção tem servido aproveitamentos políticos e ambições económicas, do mesmo modo que fomenta aproximações entre artistas, empresários e académicos. Espartilhada entre uma nostalgia lusocêntrica, que teima em sonhar impérios, e uma crítica pós-colonial, que procura plataformas de entendimento no presente e para o futuro, a lusofonia parece prestar-se, por um lado, a equívocos e a simplificações, bem como, por outro lado, a formulações promotoras do diálogo intercultural (Martins, Cabecinhas, Macedo & Macedo, 2014).

A desconstrução de equívocos a propósito da lusofonia só pode realizar-se pela assunção da pluralidade e da diferença e pelo conhecimento aprofundado de uns e de outros (Martins, 2015). Pretende-se olhar o conceito de lusofonia como figura complexa, sem centro e com sentidos múltiplos, que se interpelam, uma comunidade multi, inter e transcultural (Macedo, Martins & Cabecinhas, 2011).

O Museu Virtual da Lusofonia procura, assim,  interrogar o conceito de lusofonia na interseção de olhares, não se limitando a reunir uma equipa multidisciplinar de cientistas sociais, mas procurando também envolver elementos dos setores cultural e artístico e da sociedade civil na reflexão e na discussão crítica sobre as relações interculturais nos países de língua portuguesa.