“É assim, eu penso que os santomenses sentem, não muito a diáspora, mas muito a insularidade. Pronto, acho que isso é das coisas terríveis, tão terríveis são e foram e marcaram o povo de São Tomé, que se chamava o dia de S. Navio e o dia do S. Avião. Ainda hoje podemos dizer que quando chega o avião há muita gente que está do lado de fora da rede que não está à espera de ninguém, só querem ver o avião, é aquilo que vem do outro lado do mundo. Quando a internet entra, a internet é o seu avião é o seu navio, portanto, entra qualquer coisa que lhe dá acesso a outro lado do mundo, ao exterior, àquilo que eles não conhecem, porque nem todos têm possibilidade de viajar, as viagens são caríssimas, portanto, a TAP faz preços astronómicos, 1500 euros para se ir a São Tomé e de São Tomé para cá, como é que as pessoas saem? Os jovens tentam com as bolsas de estudo, tentam sair, mas muitos ficam e podemos dizer que 50% dos jovens ainda não consegue sair, portanto, quando a internet aparece há um lançamento de cabeça para a internet, os centros de internet estão sempre a abarrotar, sobretudo agora que o Brasil, só a embaixada do Brasil pôs na cidade três centros de internet. Portugal não conseguiu, tem só um. Lá está, nós devemos isso ao Brasil, os jovens têm sempre internet, desde manhã até à noite a internet a funcionar em São Tomé, se não é num centro é no outro, mas se não for naquele, passa para aquele, portanto isso é muitíssimo bom, para São Tomé foi muitíssimo bom. Acho que de todos os países da lusofonia foi aquele que mais sentiu necessidade da internet”.
Olinda Beja (escritora, São Tomé e Príncipe)
Entrevista concedida no âmbito do projeto de investigação: “Narrativas Identitárias e Memória Social: a (re)construção da lusofonia em contextos interculturais”, financiado pela FCT (PTDC/CCI-COM/105100/2008)