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Luiz Ruffato

Luiz Ruffato

Portugal

2012

Lurdes Macedo

Entrevistas

Relações interculturais

“O estranhamento do outro independentemente de onde esteja. Toda a minha literatura, na verdade, trafega exatamente nessa discussão. Quer dizer, o que me interessa na literatura é exatamente pensar um pouco a respeito dessa questão de um não lugar, de você nunca estar num lugar. Então, quando eu levei esse meu personagem a Portugal eu já conhecia bastante bem Lisboa e eu fui conhecer um pouco fora daqueles lugares em que normalmente a gente passa. O livro se transcorre em alguns lugares fora da Lisboa conhecida, digamos assim. Eu conversei muito com pessoas mas eu tenho uma maneira de escrever estranha porque eu não anoto nada, não faço entrevistas. Eu gosto de conversar. Na verdade, eu gosto de ouvir. Então, ouvir o outro, para mim, é que foi importante para que isso fizesse parte do meu corpo. E a partir do momento em que ele virasse alguma parte do meu corpo, então, eu poderia escrever com o meu corpo. O que eu percebo é que esse estranhamento é também, ou foi também um dia, o estranhamento que os portugueses tiveram – os imigrantes pobres – quando chegaram no Brasil. Tudo bem, era um pouco diferente porque, de alguma maneira, era o colonizador. A relação é muito diferente mas, de alguma maneira, o pobre brasileiro lá e o pobre português cá, independentemente de ser colonizador ou não, ele é pobre. E independentemente de como ele se sente, ele se sente discriminado. Eu acredito que depois da independência os portugueses passaram a ter no Brasil uma situação muito complicada. Quem chegava para trabalhar aqui era visto como gente desqualificada. Então, era o galego, era o português da padaria. É sempre uma maneira preconceituosa de ver o outro. Então, o que me interessava mais era exatamente perceber um pouco como é você se sentir estrangeiro na mesma língua, estrangeiro na mesma cultura. Foi basicamente isso que eu tentei compreender”.

 

Luiz Ruffato, escritor, Brasil

 

 

 

Entrevista concedida no âmbito do projeto de investigação: “Narrativas Identitárias e Memória Social: a (re)construção da lusofonia em contextos interculturais”, financiado pela FCT (PTDC/CCI-COM/105100/2008)