Eu senti que anulou um pouquinho o que eu era
Portugal
2011
Francine Oliveira
Entrevistas
Identidades
“Para mim eu achei que não ia repercutir nada em mim essa mudança, quando eu cheguei aqui eu vi uma coisa totalmente diferente. Eu sofri um pouco, entrei em depressão, eu sentia falta até do cheiro, sentia falta do cheiro do mar, sentia falta do cheiro da comida. Eu lembro que no início eu olhava para as ruas e dizia, nossa é tudo feio, não tem nada bonito aqui, o que é que vim fazer aqui?”.
“Eu olhava para o João e dizia, você é o culpado, porque eu senti que anulou um pouquinho o que eu era, a minha personalidade. Eu era uma mulher muito impulsiva, era uma mulher que decidia, então isso mudou em mim, talvez pela família, talvez porque eu não tinha o costume de ver a mulher tão submissa… e chegar aqui e dar de caras com uma coisa que eu não era e ter que ser, foi complicado… isso me assustou, eu cresci com uma mãe que criou 7 filhos sozinha, ela decidiu a vida de 7 filhos sozinha, então a fibra que eu tinha ou que eu tenho vinha desse exemplo da minha mãe, então eu não sei o que é uma pessoa decidir por mim”.
“Hoje não sou totalmente brasileira, porque não tem jeito, sou portuguesa, mas eu aprendi a amar esta terra pelos meus filhos, por eles, porque eu não poderia viver a minha vida toda falando para o meu filho que o Brasil é feio, que o Brasil não presta”.
Alda, natural de Portugal, vive no Brasil
Entrevista concedida no âmbito do projeto de investigação: “Narrativas Identitárias e Memória Social: a (re)construção da lusofonia em contextos interculturais”, financiado pela FCT (PTDC/CCI-COM/105100/2008
Autoria da imagem: Vano (uso livre)