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Estar consciente de todas as proveniências

Estar consciente de todas as proveniências

Portugal

2011

Rosa Cabecinhas

Entrevistas

Memórias

“Eu fui dirigente da associação académica, joguei basquete e depois fui dirigente do basquete e portanto, essas pessoas da minha geração, que acaba por ser um período relativamente estreito, mantêm um encontro todos os anos. Houve uma altura em que eles fizeram aqui perto em Ofir, depois, por várias razões nunca mais lá voltei e há poucos anos resolvi lá ir outra vez. Fui três anos seguidos, aborreci-me, nunca mais, jurei que nunca mais, porque é precisamente isso, eu já não tenho nada a ver com esta gente… quer dizer… eles até fazem uma festa muito grande e  lembram-se de coisas que eu não me lembro e dá-me a sensação que aquela gente vive das memórias, vive de cultivar aquelas memórias… e eu na associação, por exemplo, tocava viola, e portanto esses sujeitos da tuna, que tocavam comigo, ainda são mais ‘Ah, lembras-te quando…’, e olha que eu não, não, quer dizer, e a sensação que tenho é que fazem a vida à volta daquilo, dá a impressão que o mundo parou ali, quer dizer, não há mais nada, e eu aborreci-me de tal maneira que nunca  mais pus lá os pés… a grande vantagem, se calhar, desta minha vida tem sido o estar consciente de todas as proveniências… não tenho necessariamente que me prender a umas memórias, a um grupo fixo, a vida vai andando e a gente vai mudando. Se eu tivesse que me mudar daqui e ir para outro sítio qualquer, tenho a impressão, digamos que mudaria da mesma maneira.

 

Pedro, natural de Portugal,  viveu em Moçambique

Entrevista concedida no âmbito do projeto de investigação: “Narrativas Identitárias e Memória Social: a (re)construção da lusofonia em contextos interculturais”, financiado pela FCT (PTDC/CCI-COM/105100/2008

 

Autoria da imagem: Vano (uso livre)