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Olinda Beja

Olinda Beja

Portugal

2012

Lurdes Macedo e Jorge Adolfo Mendes

Entrevistas

Identidades

“Os diários, as paixões escondidas, os segredos que a gente não quer que os outros saibam, pronto, talvez também um pouco de revolta, que havia dentro de mim, quando havia discussões com a mãe adotiva, quando, sei lá, o pai não mandava a mensalidade e todo esse peso vinha sobre mim, lá estou eu a escrever, a explanar no papel o que ia na alma. Depois chega-se àquela idade em que se deita aquilo tudo fora, em que aquilo não era nada comparado com outras coisas que descobrimos, com novos mundos, tudo bem, mas ao redescobrir, porque há uma redescoberta da minha África, e aí eu volto à conversa anterior. Se eu tenho lá ido com 10/12 anos não seria redescoberta, um pulinho e tal, com 39 é uma redescoberta dramática, mas bela, mas poderosa, mas forte, que se entranhou mesmo no corpo, porque durante 39 anos ouvi dizer mal de África, ouvi dizer mal dos países, ouvi dizer mal daquilo tudo, aquilo era quem fosse para África, caía lá e nunca mais voltava, o nunca mais voltar, as pessoas que cá ficava não sabiam porquê e davam-lhe uma interpretação errada, que eu também tinha, e quando regresso, como já tenho 39 anos, o deslumbramento e a aceitação são vistos de uma outra maneira. Então esta é que é a terra da qual me diziam mal, ai não, esta é a minha terra, esta que eu tenho que amar e produz-se um sentimento tal, ainda incompreendido pela maior parte das pessoas, e por isso vem sempre a tal pergunta, mas você é uma escritora portuguesa…porque ainda não conseguiram pôr-se no meu dilema”.

Olinda Beja (escritora, São Tomé e Príncipe)

Entrevista concedida no âmbito do projeto de investigação: “Narrativas Identitárias e Memória Social: a (re)construção da lusofonia em contextos interculturais”, financiado pela FCT (PTDC/CCI-COM/105100/2008)